segunda-feira, 18 de julho de 2011

Noticia: Paulo Autran - Patrono do Teatro Brasileiro


O ator Paulo Autran foi declarado patrono do teatro brasileiro. O título, aprovado pelo Congresso Nacional em junho, foi oficializado na edição de hoje do Diário Oficial da União, em lei assinada pela presidente Dilma Rousseff.

Conhecido como 'senhor dos palcos', Autran começou a carreira no teatro no fim da década de 40. Depois de atuar em montagens amadoras, estreou profissionalmente em Um Deus Dormiu lá em Casa, dirigida por Adolfo Celi, no Teatro Brasileiro de Comédia.

Depois do sucesso da estreia e incentivado pela atriz Tônia Carreiro, Autran decidiu largar a advocacia e se dedicar às artes. Ator de teatro, cinema e televisão, ele se dedicou principalmente aos palcos. Ao longo da carreira, fez 90 peças, entre elas clássicos como Rei Lear, de William Shakespeare, Édipo Rei, de Sófocles, e A Vida de Galileu, de Bertold Brecht.

No cinema e na televisão, Autran também é reconhecido por atuações marcantes, como em Terra em Transe, de Glauber Rocha, lançado em 1967. Na TV, é lembrado principalmente pelas participações na novela Guerra dos Sexos, em que contracenava com Fernanda Montenegro, e pelo vilão Bruno Baldaraci, em Pai Herói.

Em 2006, o ator foi diagnosticado com câncer de pulmão. Morreu em 2007, aos 85 anos. O título de patrono tem valor simbólico, e não implica benefício material ao homenageado ou a seus sucessores.

Fonte: Jornal do Brasil - http://www.jb.com.br/

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Teatro Latino Americano


Marco Antonio de la Parra,
Três décadas dedicadas ao Teatro
(1975-2011)

(PARTE 1)

(Um comentário geral sobre o Chile e a transição da Classe média em meio a ditadura/pósditadura/modernidade/pósmodernidade)

A estrutura dramatugica de seus textos baseiam-se em dois critérios fundamentais: Um Cronológico e outro Poético. E se organiza em três períodos:

O Primeiro, entre 1975 e 1988, com textos como "Matatangos", "El Zorzal" e a mais "emblemática daquele período "Lo crudo, lo cozido, lLo podrido (1978), que gerou estudos de diversos entre criticos nacionais e internacionais. Mais tarde, em 1984, "La secreta obscenidad de cada dia" torna-se uma das peças Latinas mais encenadas no mundo. 

A segunda etapa de sua dramaturgia inicia-se logo no final da ditadura militar chilena, surgindo "King Kong Palace" publicada em 1990 como a obra mais encenadas neste segundo período, e outras que obtem sucesso internacional: "El Padre Muerto" (1991) e "Tristan y Isolda" (1993).

O terceiro período se inicia em 1994 com "El continente Negro", "La madre muerta" e "La pequeña historia de Chile", obras que estrearam nesta mesma época e que abarcaram todas as suas obras já escritas, tornando-se em um marco da pósditadura chilena.
Desde a perspectiva temática, a produção teatral de Marco antonio de La Parra se organiza também em torno de três investigações substanciais. A primeira detém-se na relação com a permanentementre revisão da história e da identidade chilena, especialmente em seu contexto republicano e moderno. O imaginário nacional, seus relatos e mitos, referencias e ícones, e sua memória foram explorados em "Lo crudo, locozido e lo podrido" (1978), passando por "La pequenã historia de Chile" (1994), chegando até "Las costureras" (2000), entre outras obras.

O segundo projeto de investigação em suas obras aprofunda-se no incessante assédio a "subjetividade" da classe média chilena ao final do século XX e início do século XXI. As principais preocupações desta classe, amores e ódios, lealdades e traições, convicções e envolvimentos politicos e economicos, que foram explorados em textos como "Infieles " (1988), "El continente negro" (1994) e "Monogamia" (2000).

A terceira "obssessão" tem sido a apropriação, comparação e reconstrução das bases de diversos ícones culturais ocidentais: Marx e Freud, Tarzan e Mandrake, Pinochet e Busch, a tragédia grega e os realits shows, o High Tech e o Sushi, etc. "Re-elaborados" em peças como "Matatangos", "king Kong Palace", "Sarajevo", entre outras.

Essas três linhas compartilham de uma mesma reflexão sobre "o poder", seu mecanismo e relações, a interação e a convivência humana. As relações entre homem e sociedade.

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
 Teatro: Lo crudo, lo cocido, lo podrido / Matatangos, disparen sobre El zorzal., Obscenamente (in)fiel o una personal crónica de mi prehistoria dramatúrgica / La secreta obscenidad de cada día / Infieles.  King Kong Palace o el exilio de Tarzán / Dostoievski va a la playa.
1992. El padre muerto. Menoría: Ediciones Premio Borne.
1994. Tristán e Isolda. Valladolid: Ediciones Premio Caja España.
 1994. “El retorno del texto”, Apuntes Nº 108, pp. 94-95.
1995. La pequeña historia de Chile, Apuntes Nº 109.
1998. Teatro mutilado de Chile: Telémaco/Subeuropa o el padre ausente / La tierra insomne o la puta madre. Santiago, Chile
1999. Heroína, teatro repleto de mujeres: Heroína / Héroe / El continente negro / Lucrecia & Judith / Ofelia o la madre muerta / La vida privada. Santiago, Chile: Cuarto Propio. Díaz-Ortiz, Oscar.
1996. “Marco Antonio de la Parra: Matatangos y la resemantización de su causa ausente”, Latin American Theatre Review N° 29, 2, pp. 43-60. Guerrero, Eduardo.
2001. “Entrevista con Marco Antonio de la Parra”, Acto único: Dramaturgos en escena, Santiago: Ril-Universidad Finis Terrae, pp. 61-74. Hurtado, María de la Luz.
1992. “Una ritualidad grotesca y perversa”, en Teatro chileno contemporáneo (antología), Madrid: Fondo de Cultura Económica-Centro de Documentación Teatral del Ministerio de Cultura de España, pp. 801-806.
2000. “Chile, Heroína: teatro repleto de mujeres”, Celcit Nos 13-14, pp. 32- 37. Morel, Consuelo.
1995-1996. “Ofelia: La imposibilidad de recibir del mundo externo”,
2000. “Marco Antonio de la Parra, La mutilación: La puta madre”, Teatro de mujer y culturas del movimiento en América Latina. Santiago, Chile: Cuarto Propio,
2006 - Adolfo Albornoz Farias - Universidad de Costa Rica, Costa Rica - Acta Literaria nº33

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Augusto Boal, Um grande brasileiro

AUGUSTO BOAL (1931 - 2009)

Biografia

Augusto Pinto Boal (Rio de Janeiro 16/03/1931 - Rio de Janeiro 02/05/2009). Diretor, autor e teórico. Por ser um dos únicos homens de teatro a escrever sobre sua prática, formulando teorias a respeito de seu trabalho, torna-se uma referência do teatro brasileiro. Principal liderança do Teatro de Arena de São Paulo nos anos 1960. Criador do teatro do oprimido, metodologia internacionalmente conhecida que alia teatro a ação social.

Conclui o curso de química na Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, em 1950, e embarca para Nova York, onde estuda teatro na Universidade de Columbia. Cursa direção e dramaturgia, tendo John Gassner como um de seus mestres.

De volta ao Brasil em 1956, aos 25 anos, é contratado para integrar o Teatro de Arena de São Paulo, dividindo as tarefas de direção com José Renato, mentor artístico da companhia. Passa a exercer natural ascendência sobre os colegas, em função de sua vasta formação intelectual, responsabilizando-se, junto com José Renato, pela guinada no direcionamento do grupo. Investe na formação dramatúrgica da equipe, instituindo um Curso Prático de Dramaturgia. Aprofunda o trabalho de interpretação, adaptando o método de Stanislavski, ao qual teve acesso, através de sua experiência norte-americana, às condições brasileiras e ao formato de teatro de arena, resultando numa interpretação naturalista, até então não experimentada no Brasil. E, fundamentalmente, sua atuação é decisiva no engajamento do grupo na opção ideológica da esquerda brasileira, determinando a investigação de uma dramaturgia e interpretação voltadas para as discussões e reivindicações nacionalistas, em voga na segunda metade dos anos 1950.

Sua primeira direção na casa é Ratos e Homens, de John Steinbeck, que lhe rende seu primeiro Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes - APCA, como revelação de diretor de 1956.

No ano seguinte, segue-se Marido Magro, Mulher Chata, uma despretensiosa comédia de costumes sobre a "juventude transviada" de Copacabana, sua primeira incursão como autor. Boal consegue demonstrar domínio na técnica do playwriting americano, mas longe ainda de efetivar uma análise profunda da sociedade brasileira. No trabalho da encenação, em lugar do teatral, avança na busca do coloquialismo. Ainda em 1957, reincide na direção, agora com um texto de Sean O'Casey, Juno e o Pavão, que não alcança sucesso de público.

Em 1958, encena A Mulher do Outro, de Sidney Howard, agravando a crise já instalada no teatro da Rua Theodoro Baima pela seqüência de fracassos anteriores. Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri, dirigido por José Renato, salva o Arena da bancarrota, e o grupo ressurge como a grande revolução da cena nacional. Para seguir na investigação de uma dramaturgia própria, voltada para a realidade brasileira, Boal sugere a criação de um Seminário de Dramaturgia. As produções, fruto desses encontros, vão compor o repertório da fase nacionalista do conjunto nos anos seguintes. É importante notar que o país passa por uma valorização do "tudo nacional", e que, em paralelo, avançam a Bossa Nova e o Cinema Novo.

Sob sua direção, estréia Chapetuba Futebol Clube, de Oduvaldo Vianna Filho, em 1959, segundo êxito nessa vertente. O texto investiga a operacionalidade de um pequeno time de várzea, revelando as trapaças políticas que rondam os campeonatos de futebol. Mais uma vez, os protagonistas da trama são de origem humilde. A direção de Augusto Boal é ágil, vigorosa, e ele afirma, através do texto do programa, ter substituído o realismo seletivo pelo realismo teatral, para melhor ambientar o universo proposto pelo autor e para atingir mais "energicamente" o espectador.

Ainda em 1959, dirige para o Teatro das Segundas-feiras, espaço aberto para experimentar os textos advindos do Seminário de Dramaturgia, Gente como a Gente, de Roberto Freire. No sentido de escapar aos estereótipos, de não tipificar o homem brasileiro, seja ele do Nordeste, do Sul ou do interior do Estado de São Paulo, é necessário uma ampla pesquisa de comportamento, ações, modos de falar, pelos atores da companhia.

Sua última direção de 1959 é A Farsa da Esposa Perfeita, de Edy Lima. Ambientado numa região fronteiriça do Rio Grande do Sul, o enredo gira em torno da recuperação da honra de um homem, através da condescendência de outro, em troca dos favores sexuais da esposa do primeiro - típica trama ligada à tradição farsesca.

Fogo Frio, de Benedito Ruy Barbosa, em 1960, ocorre numa produção conjunta entre o Arena e o Teatro Oficina, companhias que, nesse período, vivem intercâmbios constantes: Boal orienta um curso de interpretação para o elenco do Oficina; dirige para o grupo A Engrenagem, adaptação dele e de José Celso Martinez Corrêa do texto de Jean-Paul Sartre, e Antônio Abujamra dirige, no ano seguinte, José, do Parto a Sepultura, de Boal, com os atores do Oficina, que estréia no Teatro de Arena.

Ainda em 1960, seu texto Revolução na América do Sul, com direção de José Renato, o eleva ao posto de um dos melhores dramaturgos do período, lugar que já ocupa como encenador e ideólogo no panorama paulista. O texto inicia a investigação de uma forma não realista, mais próxima ao teatro épico de Bertolt Brecht. Trata-se de uma farsa-revista musical, inspirada nas tradições cômicas e populares, a serviço de um contundente protesto político-social. Boal aprofunda essa conexão entre teatro e agit-prop em Pintado de Alegre, de Flávio Migliaccio, em 1961.

No mesmo ano, completando a fase nacionalista, Boal dirige O Testamento do Cangaceiro, de Chico de Assis, ainda uma abordagem dramatúrgica com base na literatura popular, com cenários e figurinos de Flávio Império e participação especial de Lima Duarte no elenco. A partir de 1962, o Arena inicia uma nova fase: a nacionalização dos clássicos. É nesse momento que José Renato sai da companhia e Boal torna-se líder absoluto e sócio do empreendimento. Encerra-se a leva de encenações dos textos produzidos no Seminário, que levara o Arena a um beco sem saída ao final de 1961, e o grupo modifica sua linha de repertório, retomando o interesse nas questões da cena propriamente dita. A qualidade dos espetáculos torna-se superior. Já em A Mandrágora, de Maquiavel, 1962, Boal volta a chamar a atenção como encenador. O espetáculo é apreciado não por suas intenções políticas, mas por seus valores estéticos: a boa carpintaria dramática, "o frescor da interpretação, maliciosa, irônica, positiva na sua mensagem".

No ano seguinte, novamente acerta ao encenar O Noviço, de Martins Pena, divertindo a platéia com uma sátira bem-humorada do Brasil. Volta a colaborar com o Oficina, dirigindo Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams. A cenografia de Flávio Império transforma a espacialidade do teatro, e o elenco permanente, sob os auspícios do treinamento de Eugênio Kusnet, partilha do sucesso do empreendimento ao lado de atores mais experientes, como Mauro Mendonça e Maria Fernanda.

Em 1963, no Arena, segue-se O Melhor Juiz, o Rei, de Lope de Vega, cujo terceiro ato sofre adaptação radical, subvertendo o significado do original. E, última contribuição de Boal para o "rejuvenescimento dos clássicos", Tartufo, de Molière, cartaz de 1964.

Assim que se efetiva o golpe militar, Boal vai ao Rio de Janeiro dirigir o show Opinião, com Zé Kéti, João do Vale e Nara Leão (depois substituída por Maria Bethânia). A iniciativa surge de um grupo de autores ligados ao Centro Popular de Cultura da UNE - CPC, posto na ilegalidade - Oduvaldo Vianna Filho, Paulo Pontes e Armando Costa reúnem-se no intento de criar um foco de resistência à situação. O evento torna-se sucesso instantâneo e contagia diversos outros setores artísticos (Opinião 65, exposição de artes plásticas no Museu de Arte Moderna, MAM/RJ, surge na seqüência), aglutinando artistas ligados aos movimentos de arte popular. Esse é o nascedouro do Grupo Opinião, que permanece combativo até 1968.

Retornando a São Paulo, encontra a equipe do Arena em torno do projeto de reconstrução do episódio histórico do Quilombo de Palmares. Com a experiência do Opinião na bagagem, Boal inicia o ciclo de musicais na companhia, integrando o coletivo de artistas em torno de uma nova linguagem. Ele, Gianfrancesco Guarnieri e Edu Lobo dão forma a Arena Conta Zumbi, encenado em 1965, primeiro experimento com o sistema coringa. Escolhido o recorte do tema, os locais de ação e as principais personagens, a cena ganha um aspecto de grande seminário dramatizado: oito atores revezam-se entre todas as personagens, teatralizando cenas fragmentadas e independentes, enquanto um ator coringa tem a função narrativa de fazer as interligações, como um professor de história que organiza uma aula e dá seu ponto de vista sobre os acontecimentos. O emprego da música torna-se um elemento essencial à linguagem do espetáculo, interligando as cenas, e enriquecendo a trama em tons líricos ou exortativos. O elenco é jovem e bonito, e tem a consciência de utilizar eventos passados para se fazer uma crítica ao presente. Zumbi confirma o Arena na liderança da pesquisa teatral e da luta contra o arbítrio vigente no país.

A bem-sucedida realização, sucesso de público, determina novas versões de Arena Conta..., que resultam na teorização do método. No mesmo ano, Boal escreve e dirige Arena Conta Bahia, direção musical de Gilberto Gil e Caetano Veloso, com Maria Bethânia e Tom Zé no elenco. Segue-se um texto seu e de Guarnieri, pelo Oficina, Tempo de Guerra, construído com poemas de Brecht, com Gil, Maria da Graça (Gal Costa), Tom Zé e Maria Bethânia, sob sua direção.

Em 1966 retoma os clássicos dirigindo O Inspetor Geral, comédia de Nikolai Gogol, uma montagem mal-sucedida. No ano seguinte, é a vez de Arena Conta Tiradentes, repetindo a fórmula criada dentro do grupo. O espetáculo é o resultado mais apurado do sistema coringa, centrado sobre outro movimento histórico da luta nacional: a Inconfidência Mineira. Não há o objetivo de retratar os fatos de forma ortodoxa e cronológica. A intenção é criar conexões constantes com fatos, tipos e personagens relativos ao movimento pré e pós-1964. Do ponto de vista da linguagem, busca-se criar uma empatia da platéia com a personagem de Tiradentes, o herói, através de uma interpretação realista, em contraponto a uma abordagem distanciada para os demais personagens, despertando o entusiasmo revolucionário e uma perspectiva crítica sobre os acontecimentos.

A música tem importância crucial nessa encenação, com direção musical de Theo de Barros. O refrão "de pé, povo levanta na hora da decisão" pontua toda a montagem, conclamando explicitamente a platéia na resistência à ditadura. Responsável pela unidade visual, Flávio Império, cenógrafo e figurinista da montagem, ajuda a conduzir a leitura da platéia na troca de personagens pelos atores através de signos que identificam as personagens.

Essa é a realização de Boal mais importante dentro do Arena em 1967, entre outras que chamam pouca a atenção. O Círculo de Giz Caucasiano, de Brecht, não passa da estréia. La Moschetta é mais uma bem-sucedida atualização de um clássico, sátira renascentista de Angelo Beolco, autor de um teatro cru e violento que se assemelha aos dramas de Plínio Marcos, autor recém-lançado no panorama paulista.

A Primeira Feira Paulista de Opinião, concebida e encenada por Boal no Teatro Ruth Escobar, trata-se de uma reunião de textos curtos de vários autores, depoimento teatral sobre o Brasil de 1968. Estão presentes peças de Lauro César Muniz, Bráulio Pedroso, Guarnieri, Jorge Andrade, Plínio Marcos e Boal. O diretor apresenta o espetáculo na íntegra, ignorando os mais de 70 cortes estabelecidos pela Censura, incitando a desobediência civil. Luta arduamente pela permanência da peça em cartaz, depois de sua proibição. No mesmo ano, segue-se Mac Bird, de Barbara Garson, transposição de Macbeth, de Shakespeare, para o universo norte-americano.

Com a decretação do Ato Institucional nº 5, em fins de 1968, o Arena viaja para fora do país, excursionando em 1969 e 1970 pelos Estados Unidos, México, Peru e Argentina. Boal escreve e dirige Arena Conta Bolivar, inédita no Brasil, que se soma ao antigo repertório.

Em seu retorno, com uma equipe de jovens recém-saídos de um curso no Arena, cria o Teatro Jornal - 1ª Edição, experiência que aproveita técnicas do agit-prop e do Living Newspaper, grupo norte-americano dos anos 30. A equipe denota vigor e talento, vindo a tornar-se o Teatro Núcleo Independente, grupo importante na periferia paulistana dos anos 1970.

A Resistível Ascensão de Arturo Ui, de Brecht, é a última incursão de Boal no coringa. Apesar de não acrescentar grandes novidades na linguagem do grupo, demarca a resistência à razão, em meio a tantas manifestações teatrais voltadas para o místico - sintoma das novas tendências que emergem no início da década.

Preso e exilado em 1971, Boal prossegue sua carreira no exterior, inicialmente na Argentina, onde permanece cinco anos, e desenvolve a estrutura teórica dos procedimentos do teatro do oprimido.

Torquemada, um texto seu sobre a Inquisição, é encenado em Buenos Aires em 1971, e Tio Patinhas e a Pílula, em Nova York, em 1974. Muda-se para Portugal, fixando-se por dois anos, trabalhando com o grupo A Barraca, realizando a montagem A Barraca Conta Tiradentes, 1977. Lá escreve Mulheres de Atenas, uma adaptação de Lisístrata, de Aristófanes, com músicas de Chico Buarque. Finalmente, a partir de 1978 estabelece-se em Paris, criando um centro para pesquisa e difusão do teatro do oprimido, o Ceditade.

Em São Paulo, no mesmo ano, Paulo José dirige para a companhia de Othon Bastos Murro em Ponta de Faca, texto em que Boal enfoca a vida dos exilados políticos. Boal visita o Brasil em 1979 para ministrar um curso no Rio de Janeiro, retornando, no ano seguinte, juntamente com seu grupo francês, para apresentar o teatro do oprimido, já consagrado em muitos países da Europa e de outros continentes.

Somente em 1984, com a anistia, retorna ao Brasil, fixando-se no Rio de Janeiro, mas viajando para todo o mundo, onde aplica cursos e desenvolve atividades ligadas ao oprimido. Realiza encenações internacionais, ao longo e depois do exílio, em Nova York, Lisboa, Paris, Nuremberg, Wuppertal e Hong Kong.

No Brasil, após seu regresso, dirige o musical O Corsário do Rei, texto de sua autoria, com músicas de Edu Lobo e letras de Chico Buarque, em 1985; Fedra, de Jean Racine, com Fernanda Montenegro no papel-título, em 1986; Malasangre, de Griselda Gambaro, em 1987; Encontro Marcado, de Fernando Sabino, em 1989; e Carmen, de Bizet, sambópera de Boal, Marcos Leite e Celso Branco, 1999.

Lança vários livros teóricos sobre o seu fazer teatral, tais como: O Teatro do Oprimido e Outras Políticas Poéticas, 1975; 200 Exercícios para Ator e o Não-Ator com Vontade de Dizer Algo através do Teatro, 1977; Técnicas Latino-Americanas de Teatro Popular, 1979; Stop: C'est Magique, 1980; Teatro de Augusto Boal, vol. 1 e 2, 1986 e 1990; Jogos para Atores e Não Atores, 1988; Teatro Legislativo, 1996. Escreve dois textos autobiográficos, Milagre no Brasil, em 1977, e Hamlet e o Filho do Padeiro, em 2000. Sua atuação mais recente encontra-se voltada para o teatro do oprimido, ampliando as conexões entre teatro e cidadania.

Entre outros significativos títulos e prêmios angariados por Boal no exterior, destacam-se o Officier de l'Ordre des Arts et des Lettres, outorgado pelo Ministério da Cultura e da Comunicação da França, em 1981, e a Medalha Pablo Picasso, atribuída pela Unesco em 1994. Em 2009, é nomeado embaixador mundial do teatro pela Unesco.

Avaliando a abrangência de sua trajetória, o crítico Yan Michalski destaca: "[...] Até o golpe de 1964, a atuação de Augusto Boal à frente do Teatro de Arena foi decisiva para forjar o perfil dos mais importantes passos que o teatro brasileiro deu na virada entre as décadas de 1950 e 1960. Uma privilegiada combinação entre profundos conhecimentos especializados e uma visão progressista da função social do teatro conferiu-lhe, nessa fase, uma destacada posição de liderança. Entre o golpe e a sua saída para o exílio, essa liderança transferiu-se para o campo da resistência contra o arbítrio, e foi exercida com coragem e determinação. No exílio, reciclando a sua ação para um terreno intermediário entre teatro e pedagogia, ele lançou teses e métodos que encontraram significativa receptividade pelo mundo afora, e fizeram dele o homem de teatro brasileiro mais conhecido e respeitado fora do seu país".1

Notas

1. MICHALSKI, Yan. Augusto Boal. In: ______. Pequena enciclopédia do teatro brasileiro contemporâneo. Rio de Janeiro, 1989. Material inédito, elaborado em projeto para o CNPq.
 
Fonte: Itaucultural