terça-feira, 27 de abril de 2010

O Teatro - As origens 1

Quando surgiu o teatro? Na história esse é um momento dificil de se precisar. Sendo o teatro a "arte de imitar", podemos considerar que o teatro originou-se no momento em que um ser humano começou a imitar o outro.

(Grécia Antiga)
Porém, registros históricos referem-se às encenações teatrais na grécia antiga, que datam do séc. VII a.C. Ali, o teatro era representado por um "Coro" que comandava os rituais ao deus "Dionísio" (Baco para os romanos), deus do vinho na mitologia grega. Utilizavam-se de máscaras, coturnos, dançavam e cantavam. Naquele momento ainda não existia a figura do ator. O ritual era cumprido com o sacrificio de um bode em oferenda a Dionísio. A pele do animal era arrancada e todos dançavam sobre ela. Os que resistiam até raiar o dia tinham direito a carne e pele do animal.

(Na mitologia, Dionisio ensinou aos homens o cultivo das vinhas. Um bode teria derrubado as parreiras, sendo assim castigado com a morte).

Com a importancia desses rituais criou-se um espaço para sua realização. Surge aí o THÉATRON. (Curiosidade: No século V a.C as arquibancadas eram feitas de madeira, e eram desmontadas ao final das apresentações. As arquibancadas de pedra só foram ser construídas no século IV a.C.)

((A palavra TEATRO é originária do Grego: THÉATRON, ou seja, "o lugar de onde se vê")).

Nos rituais ao deus Dionisio, procurava-se reproduzir o mito. O coro, cantando em procissão, dirigia-se ao local do culto. Conta-se que certa vez, no século V a. C., um integrante do coro, de nome Téspis, fortemente imbuído do espírito do ritual, saiu do coro e afirmou: "Eu sou Dionísio". Nasce assim o primeiro ator, e o gênero lírico.

(Conta-se que Solon, legislador grego, perguntou se Téspis não se envergonhava de mentir, fingindo ser alguém que não era. Tespis respondeu: "Mas só estou brincando". Após ouvir, Solon o chamou de "hypocrites" (hipócrita), ou seja, aquele que finge ser alguém que não é. Assim, no início, o ator era chamado de hypocrites).

Naquele momento, ao fundir os gêneros Lírico e Épico (usar a primeira pessoa fingindo ser a terceira), Tespis também faz surgir o gênero Dramático. E começam a ser criados textos para o teatro.

((A palavra  DRAMA,  originária do Grego – dram –  quer dizer Ação - "fazer acontecer")).

Teatro > definição: algo para ser visto; algo para ser feito. Uma ação que é testemunhada.

(Principais escritores - tragédia grega)
O primeiro grande escritor de tragédias foi Ésquilo (525 a.C à 426 a.C) autor de Prometeu Acorrentado, e inseriu o segundo ator no teatro. Outros dois grandes foram Sófocles (496 a.C à 406 a. C) autor de Édipo Rei, que insere o terceiro ator. E Eurípedes (484 a.C à 406 a.C) autor de Medéia e Electra, que não se utiliza mais do coro.
Na comédia antiga seu maior representante é Aristófanes (447 a.C. – 385 a.C.) autor de Lisistrata e As Vespas. Um pouco depois surge a comédia nova (comédia de costumes), que tem como principal representante Menandro (342 a.C. – 292 a.C.) autor de O Misantropo.

(clique na imagem para ampliar)


Resumo:

No começo, o teatro restringiu-se apenas às festas dionisíacas, passando a ocupar um espaço maior na cultura grega com o passar dos anos, tornando-se mais acessível e mais aceita pelos gregos, que começaram a elaborar no Séc. V a.C. fábulas e histórias diversas a serem encenadas para o público. Essa forma inovadora de se passar mensagens através de histórias dramáticas ficou conhecida como Tragédia Grega.

Téspis sai do coro e diz: "Eu sou Dionísio", criando assim o primeiro ator.

Os efeitos visuais de espetáculo grego ficavam por conta de "figurinos" e "máscaras". Um sapato de solado exageradamente alto, chamado coturno, era usado para elevar a estatura do ator, ajudando-o a projetar sua figura.

A arquitetura do teatro grego era estruturada em dois segmentos separados, o " théatron" e a " skené" , ligados pela " orchéstra" . A lotação completa de um auditório era cerca de 20 mil pessoas, mais ou menos 10% da população da Ática no século V. Primeiro as arquibancadas eram de madeiras e desmontadas ao final do espetáculo, um século depois seriam construidas de concreto.

Reflexões teatrais

Posso ensinar a um jovem ator qual o movimento para apontar a lua. Porém, entre a ponta de seu dedo e a lua, a responsabilidade é dele. Quando atuo, o problema não está na beleza do meu gesto. Para mim, a questão é uma só: será que o público viu a lua?"

Yoshi Oida - Ator e Diretor Japonês

(1933 - )

"Um ator errante"

terça-feira, 20 de abril de 2010

Reflexões - Escolas de Teatro

Discutir teatro é algo tão intenso quanto falar de politica, religião ou futebol. Pelo menos para atores, diretores, encenadores, técnicos, e "pessoas interessadas".

Uma das grandes discórdias é, sem dúvida, o assunto "Escolas de Teatro".

Há os que dizem que as escolas de teatro são verdadeiros caça-níqueis. Não estão interesadas com a formação do ator, que inclui a paixão pela arte e o conhecimento básico do teatro.

Outros dizem que as escolas de teatro são na verdade espaços para todos que querem perder a timidez, se sociabilizar, melhorar a oratória, e por aí vai.

Eu costumo dizer que essas escolas cumprem um papel importante para nós, artistas e técnicos envolvidos com o teatro. Elas formam público!

Num bate-papo com Antunes filho, há duas semanas, arrisquei pedir sua opinião sobre as escolas de teatro: - "...Cada vez mais as escolas buscam "profissionalizar" atores. Excluindo a ECA, o CPT, a EAD e a recém criada SP Escola de Teatro -que tem outra vertente e filosofia-, será que essas grandes e caras escolas realmente cumprem com o seu papel, o de formar atores?"

- "A profissionalização do ator é importante - disse ele - agora, quem faz a escola é o aluno! E quem faz o ator, é o próprio ator". ....e mesmo que você encontre professores cansados de dar aulas pra quem só pensa em fama e trabalhar na novela da globo, tenho certeza que eles darão atenção aos que se mostrarem interessados." E finalizou: ".....O problema é que hoje em dia, todo mundo quer ser artista!"

Como discordar do bom e velho Antunes, se cada vez mais as escolas de teatro estão lotadas?!

Aliás, nesse mesmo dia descobri que o Antunes divide comigo a mesma paixão pelas obras do escritor norueguês Henrik Ibsen. E me aproveitando dessa "semelhança de gostos", me aproximei e converçamos mais sobre o grande escritor.

Por fim, voltando às escolas...

Chego a defender, às vezes, que essas escolas "técnicas de teatro" deviam participar dos provões feitos pelo MEC como acontecem com faculdades e escolas de ensino médio e fundamental. Claro, provas específicas: teatro mundial, brasileiro, etc. Afinal, essas escolas são regulamentadas pelo próprio MEC. Portanto são instituições de "Ensino".

Ou não?

(postado originalmente no site: http://montecostello.blogspot.com/2010/04/reflexoes-1.html)

sábado, 3 de abril de 2010

A obra é para sempre.

Como pode a vida, num rompante inconsequente, nos tirar a presença de artistas tão fabulosos?

Será que realmente terão cumprido o seu papel e por isso seguem seu destino para caminhar por novos rumos, novas batalhas, e feitos brilhantes?

Hoje nos deixou Buza Ferraz, um cara que, mesmo não conhecendo pessoalmente, aprendi a respeitar pelo seu trabalho e a dedicação para com o resignio de ator. E foi-se jovem, aos 59 anos.
Isso me remete a tantos outros que também se foram jovens, ou senão, jovens num corpo mais amadurecido. Cujas rugas são tão somente a marca do sofrimento, do amor e da alegria, e de tantos outros sentimentos vividos no belo ofício de atuar.

Qual será essa força que nos transcede à marca da eternidade? É a obra que damos vida. Assim é para os músicos, pintores, atores e escritores. A arte, seja a primeira ou a sétima, é a força maior da humanidade, presente nas periferias e nos grandes centros.

Essa força pode ser percebida quando um ator não morre "intelectualmente". Um exemplo: Quem é que nunca se perguntou se Marlon Brando está vivo ou morto? E Paul Newman?

Outro dia me perguntavam alguns amigos se Dercy Gonçalves estava viva? E eu disse que sim. Pois a obra de um artista nunca morre.