segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Raul Cortez - O homem do teatro e da TV

Raul Cortez (1931 - 2006)

Raul Christiano Machado Cortêz (São Paulo SP 1931 - idem 2006). Ator. Dotado de privilegiada personalidade cênica, distingue-se em todo o diapasão da expressividade dramática com desenvoltura e naturalidade, infundindo carisma e simpatia às suas criações.

Sem ter concluído uma formação em direito, Raul integra-se ao Teatro Paulista de Estudantes, onde se inicia no teatro, estreando profissionalmente em 1956 numa ponta em Eurídice, de Jean Anouilh, no Teatro Brasileiro de Comédia - TBC, sob a direção de Gianni Ratto. Na casa, participa ainda de As Provas de Amor, de João Bethencourt, A Rainha e os Rebeldes, de Ugo Betti, e Rua São Luís, 27 - 8º Andar, de Abílio Pereira de Almeida, ambos em 1957, e Os Interesses Criados, de Jacinto Benevente, em 1957, e Pedreira das Almas, de Jorge Andrade, em 1958.

No ano seguinte liga-se ao Teatro Cacilda Becker - TCB, com o qual vai à Europa. Está presente em dois espetáculos de Ziembinski: Exercício Para Cinco Dedos, de Peter Shaffer, e Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues, em 1960. Volta ao TBC para, sob o comando de Antunes Filho, viver Juan em Yerma, de Federico García Lorca, que destaca Cleyde Yáconis como protagonista, em 1962, recebendo o prêmio de melhor ator da Associação Paulista de Críticos Teatrais - APCT.

Aparece em César e Cleópatra, de Bernard Shaw, novamente com Cacilda Becker, em 1963 para integrar ainda, no mesmo ano, o elenco de Pequenos Burgueses, de Máximo Gorki, bem-sucedida encenação de José Celso Martinez Corrêa para o Teatro Oficina, no desempenho de Teteriev, alcançando um ótimo resultado e expressivas premiações. Em 1964, novamente no TBC, vive o Joaquim de Vereda da Salvação, de Jorge Andrade, inovadora direção de Antunes Filho.

Em 1966, compõe o elenco da frustrada encenação de Júlio César, no Theatro Municipal de São Paulo, texto de William Shakespeare, dirigido por Antunes Filho e produzido por Ruth Escobar.

Em 1969, participa de duas realizações vanguardistas cheias de ressonâncias: Os Monstros, espetáculo de Jérôme Savary baseado em texto de Denoy de Oliveira, vivendo um debochado travesti e, na seqüência, atua como o Bispo, de O Balcão, encenação de Victor Garcia que redimensiona e engrandece o original de Jean Genet, novas oportunidades para premiações. Em Os Rapazes da Banda, de Mart Crowley, vive novamente um homossexual, em 1971, dirigido por Maurice Vaneau com expressivo rendimento; ressurge em Greta Garbo, Quem Diria Acabou no Irajá, traduzindo verdade interior e veracidade ao ralo texto de Fernando Mello, em 1974.

A Noite dos Campeões, peça bem-feita de Jason Miller, em 1976, lhe oferece nova oportunidade de brilho; assim como Quem Tem Medo de Virgínia Woolf? onde, ao lado de Tônia Carrero, transcende tudo o que já havia feito, arrebatando todas as premiações disponíveis em 1978, numa ótima realização de Antunes Filho.

Tendo lutado pelos direitos de representação, vive em 1979 o Manguari Pistolão de Rasga Coração, texto interditado de Oduvaldo Vianna Filho, encenação de José Renato que o confirma como astro absoluto de sua geração.

Como o Salieri de Amadeus, texto de Peter Shaffer centrado na vida do compositor Mozart, em 1982, encontra novo veículo para exprimir-se em grande desenvoltura. Que é aproveitada em 1985, numa longa excursão com o recital de poemas Ah! Mérica.

Como o protagonista de A Hora e a Vez de Augusto Matraga, mais uma encenação de Antunes realizada com o Centro de Pesquisa Teatral - CPT, em 1986, sobre a obra de Guimarães Rosa, Raul obtém novamente os melhores favores da crítica e do público, num desempenho perfeitamente integrado junto aos jovens da companhia.

Na comédia Drácula, em 1987, interpreta o protagonista com irreverência e em grande estilo, divertindo-se e fazendo o público ir às gargalhadas. Um novo papel dramático, ao lado de Christiane Torloni, o espera em Lobo de Ray-Ban, texto do ator Renato Borghi que enfoca os bastidores do teatro, em 1987, em que é premiado com o Mambembe e Molière de melhor intérprete.

No testemunho do crítico Yan Michalski: "Um ator essencialmente carismático, Raul Cortez é um astro, um protagonista nato: nos seus trabalhos mais significativos, tudo tende a girar em torno dele. Dotado da misteriosa vibração e do narcisismo específico próprios dos monstros sagrados, ele comunica-se com o público de um modo direto e intenso. O caráter predominantemente intuitivo da sua criação não impede que esta comporte também, e cada vez mais, um processo consciente e minucioso na preparação das suas personagens. Estas características marcam também o seu abundante acervo de trabalhos em telenovelas, e as suas participações em numerosos filmes".1

Notas
1. MICHALSKI, Yan. Raul Cortez In: __________. PEQUENA Enciclopédia do teatro Brasileiro Contemporâneo. Material inédito, elaborado em projeto para o CNPq. Rio de Janeiro, 1989.

Fonte: itaucultural

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