quinta-feira, 24 de junho de 2010

O Teatro Medieval II

Dramaturgia Medieval

No final da idade média e no começo do século XVI aparecem na Península Ibérica dois grandes dramaturgos que, sem sair da técnica teatral medieval, enchem-na de idéias novas, em parte já humanistas e renascentistas. La Celestina, de Fernando Rojas (?-1541), é antes um romance dialogado; obra de influência imensa na Europa de então. As peças de Gil Vicente guardam o caráter de representação para determinadas ocasiões, litúrgicas, palacianas e populares.

Autores medievais - No século XII, Jean Bodel é o autor do ''Jogo de Adam'' e do ''Jogo de Saint Nicolas''. Os miracles (milagres), como o de ''Notre-Dame'' (século XV), de Théophile Rutebeuf, contam a vida dos santos. E, nos mistérios, como o da ''Paixão'' (1450), de Arnoul Gréban, temas religiosos e profanos se misturam. A comédia é profana, entremeada de canções. ''O Jogo de Robin et de Marion'' (1272), de Adam de la Halle, é um dos precursores da ópera cômica.

Espaço cênico medieval - O interior das igrejas é usado inicialmente como teatro. Quando as peças tornam-se mais elaboradas e exigem mais espaço, passam para a praça em frente à igreja. Palcos largos dão credibilidade aos cenários extremamente simples. Uma porta simboliza a cidade; uma pequena elevação, uma montanha; uma boca de dragão, à esquerda, indica o inferno; e uma elevação, à direita, o paraíso. Surgem grupos populares que improvisam o palco em carroças e se deslocam de uma praça a outra.

CONTRIBUIÇÕES DO TEATRO DA IDADE MÉDIA

· Técnicas de encenações desenvolvidas pelos atores;
· Técnicas de cenário, iluminação e sonoplastia;
· Riqueza de figurino e maquiagem;
· Autos (ex.: de Natal, de Páscoa), representados até os dias de hoje.

Farsa
Era um quadro curto sobre uma cena cotidiana, caricaturada. Tinha a intenção de imitar a realidade, exagerando para torná-la mais sensível.
Muitas farsas podiam ser representadas por um só ator. Os temas eram grotescos e abusados: maridos corneados, espancamentos, roubos, etc.

Teatro Profano
O profano é a sátira ao divino. Associa-se em grande parte ao cômico. Não aparece como forma independente antes do século XIII, não se sabe de onde provém, aumenta sua influência quando a encenação sai da igreja. Nas praças e nas feiras, os jograis-mímicos profissionais exploram a literatura oral, recitam, cantam, executam monólogos dramáticos e mímicas dialogadas, imitando tipos (o louco, o bêbado, o tolo), tornando-se assim herdeiros e transmissores da antiga tradição latina. As companhias desta modalidade teatral buscavam a contravenção não só nos seus temas, mas também com a presença de mulheres em seu elenco e com maneiras diferentes de se apresentar: cantando, dançando e, às vezes, até se despindo.

MISTÉRIOS, MILAGRES E MORALIDADES

Mistério
Reconstituía passagens da Bíblia. Não se trata de um dogma no qual a Igreja se apóia, mas de histórias de Natal, Assunção, Ressurreição, etc.

No Mistério entrava tudo: o bom e o falso, o sério e o burlesco, o verídico e o lendário. Tinha como finalidade edificar a alma, mas também distrair o público, não havendo respeito à verossimilhança. Os papéis femininos eram representados por homens.

Sua apresentação, em seu apogeu, comovia uma cidade inteira, que pagava para assistir vários ciclos de
apresentações que duravam até quarenta dias para dar continuidade a uma história.

Foi o apogeu do teatro medieval quanto à perfeição dos meios empregados e a decadência quanto ao seu valor literário.

Estrutura do Espetáculo:

· Prólogo: explicação do que iria ocorrer;
· A peça em si: em versos (346 a 61.908 versos);
Não era dividida em atos e cenas, mas em jornadas, que podiam durar um dia inteiro, com pausa apenas para as refeições.

· Epílogo ou Prólogo final: que resumia os acontecimentos e convidava os espectadores a voltarem.

Não sobreviveu às guerras religiosas e à crise econômica. Outras causas de sua morte foram a ordem moral (o sarcasmo, a intimidade do divino com o profano) e a ordem técnica (não se adaptou aos novos tempos, sendo morto pelas idéias modernas).

Milagre
É uma peça de duração bem mais curta que o mistério. Baseado na vida dos santos. É a encenação de uma
intervenção de um santo ou da Virgem Maria. Produz-se geralmente em favor de uma personagem repugnante – sogra que matou o genro; religiosas que abandonam o convento, etc. A intenção é mostrar que não há crime, por maior que seja, que não possa ser redimido pelo fé.

O Milagre era estritamente ligado à religião, mas tratado livremente, comportando sempre um sermão encaixado no curso da ação. Era escrito em versos, variando seu comprimento de 1.000 a 3.000 versos.

Aproximadamente quarenta milagres chegaram aos nossos dias. Desapareceu no decorrer do século XVI, sendo conservado apenas na Espanha.

Moralidade
É um gênero ora grave ora alegre, que era representado mediante alegorias. Provam uma verdade de ordem moral, fazendo dialogar personagens alegóricos.
Tinha intenção didática: ensinar algo. Quando seu objetivo era religioso distinguiam-se dos mistérios porque
moralizavam em vez de contar.

Fontes Bibliográficas:
BERTHOLD, Margot. História Mundial do Teatro. São Paulo: Perspectiva, 2000.
Revista Tempo Brasileiro. Lígia Vassalo. Impresso nas Oficinas da Folha Carioca Editora LTDA, Janeiro-Março de 1983.

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