(Fragmento de Retrato de Mario de Andrade, por Lasar Segall)
"Os alicerces não devem cair mais!
Nada de subidas ou de verticais!
Amamos as chatezas horizontais!
Abatemos perobas de ramos desiguais!
Odiamos as matinadas arlequinais!"
***
"Para que cravos? Para que cruzes?
Universalizai-vos no senso comum!
Senti sentimentos de vossos pais e avós!
Para as almas sempre torresmos cerebrais!"A Paulicéia de Mario de Andrade não tem um roteiro, um enredo. É tão única, e somente, brilhante poesia.
Paulicéia Desvairada foi publicada em 1922, e trazia as primeiras bases estéticas do Modernismo. Marcou ali, o rompimento definitivo de Mario de Andrade com todas as estruturas do passado.
Com sua linguagem simples e irreverente, a obra traz como musa a cidade de São Paulo. No seu protesto às correntes dominantes (a burguesia) e ao progresso provinciano da cidade, Mario utiliza-se de erros ortográficos propositalmente, e de uma "gargalhante ironia" com "versos de sofrimento e revolta", como ele mesmo dizia.
Suas poesias podem ser lidas como um inventário das vivências e percepções que Mario de Andrade teve com a modernização de São Paulo, e com a qual teve uma relação ambígua ao longo de sua obra. "A cidade ora é tumba de homens massacrados pelas "monções da ambição", de bandeirantes ou de capitalistas, ora é palco de multicoloridos festejos."
"São Paulo! comoção da minha vida...
Os meus amores são flores feitas de original...
Arlequinal!... Traje de losangos... Cinza e Ouro...
Luz e bruma... Forno e inverno morno...
Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes...
Perfumes de Paria... Arys!
Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!
São Paulo! comoção de minha vida...
Galicismo a berrar nos desertos da América"
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