domingo, 18 de julho de 2010

"Não me peçam para dar a única coisa que tenho para vender"

"Não me peçam para dar a única coisa que tenho para vender" assim dizia a grandiosa atriz Cacilda Beker.

Recentemente ouvi um relato de um amigo dizendo que um ator estava na locadora de vídeos quando a balconista lhe pediu convites "grátis" para assistir sua peça em cartaz, e ele disse :

-Se você me deixar levar esses DVDs de graça eu te arrumo os convites"

-Desculpe mas não posso. Eu vivo disso! - disse a balconista

-E você acha que vivo do quê? De vento??? Se você não pode me deixar levar esses dvds de graça, eu também não posso arrumar os convites de graça. Você vive da locação dos DVDs e eu vivo do teatro.

Ambos calaram-se, ele pagou pelos DVDs e saiu.

Essa historinha serve para uma reflexão de todos, artistas e sociedade. Um espetáculo teatral é um entretenimento onde artistas e técnicos investem meses de trabalho para apresentar ao público um evento artístico de entretenimento, diversão e formação cultural. Ninguém vai a um restaurante, anda de ônibus, faz compras no mercado, ou aluga vídeos de "graça". Todos pagam pelo serviço ou material comprado. No entanto, há um pensamento coletivo de que os artistas podem e devem distribuir ingressos "gratis" pra todo mundo. Se no brasil os investimentos em cultura fossem maiores, mais democraticos, mais acessíveis para os grupos teatrais, talvez isso fosse possível. Mas não é.

Montar um espetáculo, seja teatral, circense ou musical exige muito trabalho, disciplina, tempo e muitas vezes o investimento financeiro, a famosa "vaquinha", entre os artistas para compra de figurino, cenário, etc.

Claro que quando se trata de uma superprodução onde grandes empresas patrocinam com muito dinheiro - e o benefício de leis públicas - espetáculos como A Bela e a Fera, O Fantasma da Ópera, etc., aí a conversa é outra. Mas sabemos que essas produções tem ingressos altíssimos e que sua meia-entrada equivale ao dobro do valor do ingresso de uma pequena produção independente.

Não desvalorizo aqui essas superproduções, muito pelo contrário, elas garantem um enriquecimento no trabalho de todos os envolvidos, seja no fator técnico, artístico ou financeiro. Porém, a realidade artística geral, não é essa.

Não estou aqui chorando pela "morte do bezerro", não. Nada disso. Só estou sugerindo uma breve reflexão de todos nós. Do quanto reclamamos da falta de cultura e educação no brasil, e de quanto a valorizamos.

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